terça-feira, 22 de março de 2011




Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.

            Clarice Lispector








quarta-feira, 16 de março de 2011

Tempo é tudo..



Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença,
entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante,
com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
 E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão...

 William Shakespeare 

 




quinta-feira, 10 de março de 2011

Incógnita..

  Não me aproximo porque, veja bem, sabe lá quem habita a tua solidão.
Hesito. Recuo. Me afasto tristíssima. E te imagino em poses e sorrisos, voz grave e cabelos desgrenhados, preso nas minhas fantasias mais loucas e movimentadas. Numa delas sou um bichinho invisível, com asas, que adentra tua casa e te observa em segredo. Faço o contorno do teu corpo todo com os olhos, parada contra a parede do teu quarto, imóvel, enquanto tu te atiras na cama. Cansado. Tu olhas para o teto, imaginando mil coisas, memórias, compromissos, desejos, saudades. Te fito com dor. A luz do abajur faz sombra na tua pilha de livros, que folheei um dia e quis pedir emprestado mesmo sabendo que não havia intimidade para pedidos. Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás.
Retrocessos. Descaminhos.

Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios de noites passadas.
Tu não me vês, estou incógnita a te observar. Como sempre estive,
olhando pelas janelas, de longe, coração apertado.
Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências.

Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas.
Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada.
Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira.
À distância, permaneço te contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia,
na hora certa,
nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és o único que habita a minha solidão.




Caio F. Abreu





quarta-feira, 2 de março de 2011

E que dure pra sempre..



 
Que não seja imortal,
posto que é chama,
mas que seja infinito
enquanto dure.


Vinícius de Moraes